Pensei que Fosse Morrer no Pós Parto

Pensei que Fosse Morrer no Pós Parto

Esse texto eu vou começar com uma frase que eu disse para o meu marido alguns dias depois da poeira baixar, no dia que a minha bebê Mia completava 5 dias de vida: “Pensei que fosse morrer!”

Já contei aqui o meu relato de parto da Mia, expliquei o quanto foi difícil. Acabamos em uma cesárea de emergência. Minha filha ficou 5 minutos comigo e logo foi levada para a unidade intensiva para tomar o seu primeiro antibiótico. Eu só vi a minha filha 2 horas depois é só aí pude amamentar.

Mia nasceu dia 11 de Março as 7:52 da manhã, após quase 24 horas de trabalho de parto.

No dia 11 tudo estava relativamente bem, exceto pelo fato do meu bebê recém-nascido ter um acesso intravenoso em seu pequeno bracinho. No dia 12 tudo foi relativamente tranquilo também. Tudo parecia bem, mas a Mia tinha que ficar sendo monitorada na unidade de tratamento e só saía para mamar. Ficava 2 horas comigo cada vez e voltava para as mãos do pediatra e das enfermeiras. Nos horários dos antibióticos ela tinha que voltar imediatamente.

Me doía demais ver a minha recém nascida com agulhas no bracinho e ficar longe dela por tanto tempo.

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Dia 13 de março, 2 dias depois da Baby Mia nascer, eu comecei a passar mal.

Eu vomitava muito e sentia tonturas. Quando trouxeram a Mia para mamar eu queria amamentar e cuidar da minha filha ao mesmo tempo. Ao verem que eu não estava bem tiraram o bebê de mim, levaram de volta para a UTI e uma enfermeira me disse essas palavras: “Eu entendo que você queira cuidar da sua filha, mas entenda que as vezes as mães também precisam de cuidados. O seu bebê vai ficar bem. Confia.” Nisso ela colocou o soro no meu braço e aplicou uns remédios no soro. Não sei se foi por causa dos remédios ou porque eu me senti segura naquele momento, mas eu relaxei e apaguei.

Assim eu fiquei por dois dias. Eu acordava só para vomitar e voltava a dormir (ou apagava, não sei explicar ao certo). Tudo foi muito estranho nesses dois dias. Eu não me sentia viva. Eu nem notei as horas passando. Tudo muito embaçado e sem nitidez na minha memória. Como se eu não tivesse vivido esses dias

Dia 15 de Março eu estava mais lúcida. Eles estavam colocando antibióticos desde o início no meu soro. Fiquei sabendo que eram 3 antibióticos e eu voltei a acordar porque estavam surtindo efeito. Mesmo assim precisavam descobrir qual era o problema comigo, já que todo o quadro poderia voltar se algum antibiótico fosse retirado. Nesse momento eu voltei a amamentar a minha filha, após dois dias sem amamentá-la, mas só nas horas que eu estava acordada que traziam ela para mim. Nesse momento me informaram que tiveram que dar leite artificial para ela com a permissão do meu marido, pois aqui na Irlanda é crime darem LA para o bebê no hospital sem a permissão dos pais.

Chorei muito. Chorei porque sabia que a partir dali seria muito difícil eu conseguir amamentar exclusivamente. Mesmo porque nos dias que se seguiram, por muitas vezes tiveram que dar LA para a Mia também, pois eu ainda estava mal.

No dia 16 de Março eu fui mandada para a tomografia computadorizada para descobrirem o que estava acontecendo. Eu já estava no hospital há 6 dias, desde o dia 10 de Março quando cheguei e a bolsa estourou no estacionamento e ainda não tinha previsão de alta.

Na tomografia descobriram que era um abcesso, que o meu útero reagiu ao corte da cesárea e formou pedaços de sangue (coágulos de sangue) do lado de fora. A minha vida seria salva, já sabiam o que eu tinha, nem que para isso precisassem retirar o meu útero… assim me disseram. Essa possibilidade de histerectomia me deixou louca.

“Logo eu que quero mais filhos?” “Como vai ser a minha vida sem menstruar? Vou entrar na menopausa com 30 e poucos anos!” – falei para o meu marido.

E continuei falando: “Mas o meu maior medo era morrer e deixar os meus filhos. Isso me passou pela cabeça e me deu um desespero. Eu pensei mesmo que fosse morrer”

“Eu também achei que você fosse morrer. Todos nós ficamos com medo” ele me disse.

Essa afirmação dele me deu mais certeza de que a situação era séria. Ele, meus pais e meus sogros acharam que eu poderia não resistir a esse pós parto turbulento.

Nessa altura eu estava tão cansada, como nunca estive antes. Tão mal quanto eu nunca estive antes. Eu chamava a nossa recém nascida menina de “ele” e de “Eric” o tempo todo e cada vez que o meu marido me corrigia falando “é uma menina” ou “é a nossa filha Mia” eu tomava um choque. “Como assim é uma menina? Não é o meu filho, o meu bebê Eric?” e logo em seguida eu me dava conta de onde eu estava e que ele tinha razão.

Fui dormir no dia 16 de Março com uma cirurgia programada para o dia 17 de Março para tentar limpar a parede externa do meu útero e colocar um dreno. 17 de Março é o feriado mais esperado daqui da Irlanda, é dia de St Patrick, o padroeiro do país. Eu queria ter levado o Eric para ver o desfile, tenho certeza que ele ia curtir, mas nada disso aconteceria porque eu estaria em cirurgia.

17 de Março, 9 horas da manhã era a hora da visita dos médicos no meu leito. O obstetra chefe do hospital veio me ver e olhar os exames de sangue diários que eu fazia. Ele olhou para mim e disse “Vamos seguir com um tratamento conservador. Você está reagindo bem aos antibióticos, vamos mantê-los e ver como o seu corpo reage nos próximos dias. Quem sabe você não vai mais precisar de cirurgia”.

imagens mamae tagarela (2)Quase chorei de felicidade quando soube que não ia mais precisar (pelo menos por enquanto) voltar para a mesa de cirurgia e que meu útero ficaria bom. Por outro lado isso significaria mais dias no hospital. Já eram 7 dias e tudo o que eu mais queria era ver o meu filho e dormir na minha cama.

Os dias foram passando e o meu corpo foi respondendo bem. Além dos antibióticos eu tomava uma injeção anticoagulante na barriga todos os dias. Acredito que boa parte disso eu devo à energia positiva que amigos e família me enviaram.

No dia 20 de Março, depois de 10 dias no hospital, eu fiquei sabendo da possibilidade de sair no dia 22 e continuar os antibióticos e a injeção em casa. Os antibióticos passariam a ser orais e as injeções uma enfermeira iria me ver todos os dias para aplicar. Concordei em continuar o tratamento e concordei que voltaria uma vez por semana no hospital para novos exames até receber alta total.

Dia 22 de Março após 12 dias no hospital eu recebi alta parcial, já com o dia marcado para voltar e refazer os exames de sangue.

Continuei me tratando em casa e ainda voltei mais 3 vezes no hospital. Ao final das 3 semanas me falaram que eu deveria fazer mais alguns exames na clínica médica do meu médico de familia. Fui na clínica fazer os exames nas 2 semanas consecutivas.

Foram 70 dias doente. Senti muita dor, de mal conseguir andar por 70 dias. Sangrei por 70 dias direto desde que a Mia nasceu. Só alguns dias depois dela ter completado 2 meses que as dores na barriga passaram, que o sangramento cessou, que eu desinchei…que tudo foi voltando ao normal.

Hoje Mia tem 3 meses e posso contar para vocês a batalha que eu enfrentei. Foi duro, mas eu tinha ao meu lado meu marido e meus pais que me ajudaram a passar por isso tudo. Eu também tinha os amigos e os familiares querendo o meu bem e mesmo de longe todo esse carinho me deu forças, mas os meus filhos foram o meu maior motivo para lutar para viver.

Foram eles que me deram força. Foram eles que me deram fôlego. Eles são realmente a minha razão de viver.

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