Criando Filhos Bilíngues

Criando Filhos Bilíngues

criando filhos bilinguesPara quem está chegando agora vou explicar a minha situação. Eu e o meu marido somos brasileiros e moramos na Irlanda, onde a língua oficial é inglês. Fomos para o Brasil ter o nosso filho perto da família e dos amigos e quando o Eric tinha 11 meses voltamos para cá.

Mas desde que ele nasceu, na verdade desde barriga, temos falado com ele em inglês.

Aqui em casa usamos o método “one parent one language” ou “one person one language” que consiste basicamente em uma pessoa fala uma língua e outra pessoa fala outra língua. Aqui escolhemos que o papai falaria inglês, por ter um inglês perfeito em termos de pronúncia, um amplo vocabulário e perfeita conjugação gramatical; e a mamãe falaria português.

Esse método só vale a pena se a pessoa que vai falar a outra língua, sem ser o português, for uma pessoa fluente naquele idioma. É um metódo bem comum na criação de filhos bilíngues, principalmente nas famílias que moram no exterior.

Meu filho pode confundir as duas línguas?

Tanto o caso do Eric quanto o caso de zilhões de crianças que nascem e crescem em famílias bilíngues e trilíngues, aprendem desde bebezinhos duas ou três línguas (ou mais) sem confundir. Não existe confusão. Faço parte de um grupo grande de mães que criam filhos no exterior (bilíngues) e nenhum confunde a língua. Alguns crianças acabam dando preferência por uma língua, para responder os pais por exemplo, geralmente escolhem a língua do local onde moram, mas entendem 100% do que é dito em todas as línguas que foram criadas.

O que eu já vi também acontecer é de as crianças formarem frases usando as duas línguas, por exemplo: “Mãe, me dá uma apple?”. Isso não significa que as crianças estão confundindo as duas línguas. Significa que a criança ainda está aprendendo as línguas, o que é um processo longo e demorado. Pode ser também porque a criança esqueceu como dizer “maçã” em português, mas nunca confusão das línguas. Dê tempo ao tempo que tudo se ajeita.

O que pode acontecer também, é de a criança levar um tempo maior para falar, pois está aprendendo duas línguas ao mesmo tempo. Sim a aprendizagem dos dois idiomas se torna mais lenta, mas isso não é ruim, pois as crianças estão compreendendo mais profundamente a estrutura das duas línguas e quando elas começarem a falar, vão falar perfeitamente os dois idiomas porque elas vão ter uma compreensão metalinguística melhor e mais profunda sobre as duas línguas.

Existem três tipos de alfabetização: a sequencial materna-segunda língua, a sequencial na segunda língua seguida da materna, e a simultânea, na qual ambos os idiomas são ensinados ao mesmo tempo. A alfabetização sequencial, uma língua seguida da outra, é mais confortável, porém a criança que fala duas línguas já está fazendo hipóteses de como vai fazer isso na segunda língua.

É incrível como o Eric entende qualquer coisa que falamos com ele, não importa a língua e ele só tem 1 ano e meio (19 meses).

 

O que o meu filho ganha com isso?

Bom, além de ampliar o poder de comunicação dele, afinal falará mais de uma língua, o bilinguismo também traz outros benefícios, são eles:

  • Maior poder de concentração
  • Influencia alguns aspectos positivos na inteligência
  • Raciocinam mais rápido
  • Melhora a fluência verbal e leitura
  • Ficam melhores em cálculos matemáticos
  • Aumenta as habilidades cognitivas cerebrais
  • Retarda o envelhecimento do cérebro
  • Maior capacidade cognitiva
  • Melhor adaptação a mudanças
  • Melhora a criatividade

Pessoas que são bilíngues desde a infância utilizam mais áreas do cérebro do que as crianças que aprendem somente uma língua.

Segundo a psicóloga Elizabete Flory, doutora em bilinguismo pelo Instituto de Psicologia da USP, essas crianças apresentam duas vantagens cognitivas. “A primeira é uma certa antecipação da consciência metalinguística – eles se dão conta de que o objeto tem palavras diferentes para representá-lo e diferenciam com qual língua falar com cada pessoa”. Outro benefício é uma possível antecipação de pensamento cognitivo em cálculos. “Isso está ligado ao desenvolvimento da lógica, pois as crianças bilíngues aceleram essa forma de pensar”.

 

Quando devo começar a estimular a segunda língua no meu filho?

Segundo Ligia Fonseca Ferreira, professora doutora do Departamento de Letras da Unifesp (SP), entre 6 meses e 4 anos existe uma janela cerebraldicas de como criar filhos bilingues mamae tagarela nas crianças, em que estão formando circuitos de linguagem e que se estimular os neurônios, eles podem fazer novas conexões e especializações.

Essa é a melhor época para introduzir uma segunda língua na vida da criança, por ser mais fácil a assimilação de novos fonemas e para o aprendizado de um idioma sem sotaque. Crianças pequenas têm uma plasticidade neural incrível. Aprendem e absorvem muita coisa.

Você não precisa esperar o seu filho falar português antes de ensiná-lo outra língua. O seu filho não vai confundir as duas línguas, acredite! Se fosse assim pessoas de diferentes nacionalidades nunca poderiam ter filhos juntos, senão essas crianças, que crescem ouvindo duas línguas, nunca aprenderiam a falar.

Porém de 5 a 10 anos também é uma boa idade para introduzir uma segunda língua no currículo escolar do seu filho, pois conseguem consolidar o idioma no cérebro a longo prazo, mas se o seu filho já começou o processo de alfabetização na língua materna e ainda não teve a introdução da segunda língua, o ideal é esperar acabar a alfabetização para só então introduzir outra língua.

 

Como ensinar duas línguas ao meu filho?

Eu gosto muito do método “one person one laguage” onde cada pessoa escolhida vai falar somente em uma língua com a criança. Pode ser o pai fala uma língua e a mãe outra. Ou a avó fala uma língua e a mãe outra. Especialistas dizem que a pessoa não pode ficar trocando a língua, tem sempre que falar naquela e pronto, senão, aí sim, pode confundir a cabeça da criança. Mas para esse método funcionar, a pessoa que vai falar na língua estrangeira tem que ser fluente no idioma escolhido.

Se na sua família não tem ninguém que seja fluente em alguma língua estrangeira, o jeito é colocar em um curso de idioma desde cedo. Alguns cursos de idiomas aceitam crianças bem pequenas, mesmo antes de serem alfabetizadas.

Outra opção são as escolas bilíngues. Só que nesse caso as crianças já saíram da fase ideal, que vai até os 4 anos. É claro que aprender outro idioma em qualquer fase da vida vale a pena, mas aprender (ou começar o aprendizado) até os 4 anos fica mais fácil, a criança incorpora a língua com mais naturalidade e sem sotaque.

Em breve vou conhecer em Botafogo, no Rio de Janeiro, a proposta de um grupo chamado Brincar Bilíngue Botafogo que ensina inglês, desde bebês, enquanto as crianças brincam, aí eu escrevo um relato para vocês.

 

A luta de quem mora no exterior.

A luta de quem mora no exterior é fazer com que os filhos aprendam e se comuniquem em português de forma fluente, pois com tanto estímulo na língua local, como amigos que falam a língua local, tv, desenhos, revistas, livros, brinquedos, tudo na língua local, é natural que a língua do país onde a criança mora se torne a preferida dos nossos filhos, já que é a língua usada no dia a dia.

Pais brasileiros que moram fora tendem a ter um trabalho grande ao ensinar português e fazer com que as crianças não deixem de usar dentro de casa. Uma história que prova o que eu estou falando é essa aqui da Ka, que mora aqui perto de mim e que tem 4 filhos, todos bilingues. Nesse texto ela fala da dificuldade que teve em ensinar português à sua filha Chloe.

 

Fontes:
Revista Educação
Educar Para Crescer
BBC Brasil
Estadão Saúde
Revista Crescer
G1 Ciência e Saúde

4 thoughts on “Criando Filhos Bilíngues

  1. Olá Thata, adorei o post! Eu gostaria de saber o seguinte, estou morando no Brasil agora com meu filho de 9 meses, mas morei 10 anos nos EUA, meu inglês é ótimo, mas como aprendi depois de adulta, é claro que tenho um sotaquezinho. Gostaria de saber se eu posso trocar para o inglês quando meu filho já tiver aprendido bem o portugues, lá por 3-4 anos. Você acha que eu poderia?

    1. Claro que sim, Larissa! Seria o OPOL (one parent one language) só que em idade mais avançada. Problema nenhum. Aqui em casa vimos que o Eric estava dando preferência para o inglês então o meu marido trocou de volta para o português e ele tem falado bem mais em português. Depois me conta os resultados. Bjs

  2. Oi. Tenho um filho de três anos e 4 meses e só agora despertei para o bilinguismo. Ainda é possível, uma vez que ele ja fala de tudo? Não vou confundir a cabecinha dele? Muito insegura quanto ao que fazer.

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